terça-feira, 31 de maio de 2011



Era uma daquelas noites tépidas que fazia recordar os verões de outrora. Os lisboetas, fugindo ao calor sufocante dos espaços fechados, povoavam as esplanadas à beira do Tejo. As mulheres aproveitaram o ensejo para exibirem os corpos bronzeados, escassamente cobertos por vestidos ligeiros, fazendo realçar as suas formas sensuais. Havia casais de namorados, de mãos entrelaçadas e olhares apaixonados, alheados de tudo à sua volta.

Ele lá estava também, olhando embevecido a mulher sentada à sua frente; perdido na contemplação muda da suavidade do rosto dela. Sorria, ao de leve, ouvindo-a falar; seguia-lhe os movimentos expressivos das mãos e, de quando em quando, retinha uma entre as suas, apertando-a afectuosamente.

Após vinte e cinco anos de uma existência previsível e rotineira, estava na companhia de uma mulher excitante, diferente das que havia conhecido. Ela trouxera-lhe uma nova forma de ser e de estar. Fazia-lhe bem! A pouco e pouco, estava a descobrir facetas de si próprio, nunca antes reveladas.

Naquela noite, ela estava particularmente atraente, muito sexy, num vestido preto, cujo decote fazia sobressair os seus seios pequenos e hirtos. Fixava-o, com um olhar lânguido, passando a língua pelos lábios carnudos, pintados de vermelho. Desejou-a.

Quis levá-la para longe e tê-la só para si. Não lho disse.

-Em que estás a pensar? - perguntou ela, ao mesmo tempo que mudava de cadeira e se sentava a seu lado.

-Hum... estou a pensar que és uma mulher muito interessante. Gosto do que vejo e do que não vejo... - sorriu, enleado, beijando-a no ombro e apertando-a pela cintura.

Sentiu a macieza da pele dela e acariciou-lhe a anca. Ela afagou-lhe o rosto e colou a boca à dele, ébria de paixão, adivinhando o desejo que o consumia.

Mais tarde, no êxtase da posse, corpos suados fundindo-se, ele repetiu várias vezes, num murmúrio rouco, ao ouvido dela: “És minha.”

Na penumbra do quarto, não viria a notar a expressão de júbilo e aquiescência, estampada no rosto dela, e muito menos viria a saber que ela lhe pertencia como nunca pertencera a outro homem